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Como aproveitar melhor do serviço de intérprete no NHS

Dicas para ajudar a usufruir melhor do serviço de intérprete no NHS

Resolvi escrever estas dicas com o intuito de ajudar os falantes da língua portuguesa a usufruírem melhor do serviço de intérprete disponibilizado pelo NHS (National Health Service), Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido.

Já há alguns anos que trabalho como intérprete de português/crioulo- Inglês em Inglaterra. Nos serviços públicos trabalho muito na área de saúde e muitas das vezes fico com a sensação de que o cliente (falante de português/crioulo) por vezes acaba por não usufruir bem dos serviços. Apesar do esforço do governo do Reino Unido para que os pacientes tenham acesso aos serviços sem que a barreira de linguagem e de comunicação os impeçam de receber serviço de saúde de qualidade, eu acho que tal nem sempre é possível. Existem vários motivos que podem afectar a qualidade do serviço recebido, mas acho que se o próprio utilizador tiver consciência de alguns factos, talvez, poderá atenuar um pouco as consequências. Por isso, resolvi escrever sobre este assunto e espero poder ajudar as pessoas que precisam de intérpretes nas consultas.

Dicas:

  1.   Decida o que quer consultar em primeiro lugar, ou então, marca uma consulta dupla. As consultas nos centros de saúde em Inglaterra, normalmente, estão previstas para demorar entre 10 a 15 minutos e se sofrer de várias doenças ao mesmo tempo o médico possivelmente não vai ver tudo no mesmo dia. Se for importante e possível, decida o que quer consultar em primeiro lugar, ou então, marque uma consulta dupla.
  2.   Tente ser directo(a). Se um médico lhe perguntar quanto pesa e começar a dizer que em 1981 pesava x depois y e actualmente pesa z, o médico normalmente precisa perceber qual é a correlação entre o seu peso de 1981 e 2021 e, por isso, possivelmente vai fazer a mesma pergunta quantas vezes for necessário.
  3.   O trabalho de um intérprete não é explicar por si, nem interpretar apenas o ele(a) achar importante. Por aproximação cultural, um intérprete, na maioria das vezes, percebe o que quer dizer mesmo sem dizer tudo, mas o trabalho de um intérprete é simplesmente tentar repetir exactamente o que disser para a outra língua.
  4.   O intérprete deve ser imparcial. Não é suposto um intérprete emitir opinião, por isso, este não se deve envolver em qualquer tipo de discussão. Por mais que um intérprete concorde com o seu ponto de vista ele ou ela em princípio não vai demonstrar e além de que, não têm muita importância (quem lhe vai prescrever o medicamento é o médico).
  5.   Aparentemente as práticas e os medicamentos diferem de país para país. Dizer a um médico que no seu país, não se trata uma determinada doença daquela forma possivelmente não vai ajudar, porque, ao que parece, cada médico segue o código do país onde trabalha. Continuar a tomar os medicamentos que trouxe do seu país de origem ao mesmo tempo que é acompanhado por médico no Reino Unido para além de, possivelmente, causar mais mal do que bem, certamente vai causar mal-estar entre o médico e paciente.
  6.   Um intérprete precisa fazer o seu trabalho, mas não é o dono da palavra. Em princípio um intérprete terá mais conhecimento do inglês, mas um intérprete não é dono da palavra. Ninguém ficará satisfeito se não lhe for permitido fazer o seu trabalho como deve ser, e o intérprete não é excepção. Todavia, sendo o problema seu, é possível que saiba algo mais e, em princípio, o intérprete não terá problemas em aprender consigo.

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